domingo, 13 de maio de 2012

Arte, Catolicismo e Protestantismo Brasileiro.



O protestantismo brasileiro é, antes de tudo, anticatólico. E, estou certo, existem razões que o condicionaram em nossas terras, ao contrário de, por exemplo, na América do Norte. Mas, por ora, a análise de tais condicionantes foge ao nosso objetivo para esse texto. O que nos interessa aqui são as implicações de tal oposição, ou, sendo mais exato, a implicação.
A rejeição de parte da cultura brasileira e, principalmente, das artes vai ser esse traço marcante no protestantismo, já que, aqui e acolá, essa arte vai estar carregada da religiosidade dominante no povo brasileiro. E, como sabemos, o catolicismo romano dita a cosmovisão preponderante. Logo, apreciar essas expressões artísticas não condiz com a vida de uma “nova criatura” convertida ao protestantismo.
A arte sempre foi vista com desconfiança pelos evangélicos1, quando não totalmente ignorada como campo de atuação da igreja e muitas vezes tratada como futilidade que levava a distrações inúteis. Valorizar uma obra de arte oriunda de um meio não protestante era e ainda é, para muitos, ato impensável.
 Mas, pouco a pouco, vem se desvelando a importância de atentar para estas manifestações culturais, pois elas transmitem as impressões da alma (vida) humana, no nosso caso específico, alma brasileira. Dar de ombros a esta importante dimensão humana é mitigar a grande comissão2. Afinal, o “todo mundo” inclui também o “mundo das artes”.
Nesse contexto, é significativa e exemplificativa a letra da música Súplica Cearense, de autoria de Gordurinha, pois ela expressa a religiosidade sertaneja e a compreensão que o homem do sertão faz de Deus e sua relação com Ele, vejamos:

Oh! Deus perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar
Oh! Deus será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há
Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão
Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração
Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar
Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

A música pinta a imagem de um deus Inclemente, desproporcional, melindroso e indiferente ao sofrimento humano.  E esse deus é produto de uma mensagem certamente transmitida ao autor pela religião dominante no Brasil, ou seja, o catolicismo romano. Entretanto, ironicamente, a pretensa distância buscada pelo protestantismo é encurtada quando constatamos que essa mesma imagem de deus não lhe é estranha. A teologia protestante, por vezes, tem corroborado com esse deus que mais parece com uma projeção mal acabada do homem na divindade.
Quando atentamos para nossas manifestações artísticas percebemos de que forma somos afetados e afetamos com nossa espiritualidade a cultura em que estamos inseridos. Entende-las nos dá meios de nos orientarmos nesse processo de reconciliação, através de Cristo, com todo o mundo. Não importa quem foi o autor da obra, se católico ou protestante, mas qual a mensagem que ela nos transmite.





1.Nesse texto uso como sinônimo os termos protestante e evangélico.  
2. Mc.16.15  


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