domingo, 20 de maio de 2012

Do Lado da Justiça, do lado de Deus


Há uma história muito conhecida de todos que na maioria das vezes tomamos para demonstrar a grande sabedoria que provinha de Deus para fazer justiça: O rei-juiz Salomão e o caso das duas prostitutas mães de uma criança1. E realmente é de grandiosa sabedoria, inclusive para dias tão conturbados como os nossos.
As querelantes eram duas prostitutas vivendo em um “Estado Teocrático”. Em Israel as transgressões de leis morais condenavam seu agente infrator à marginalidade, se não a penas capitais, como no caso de adultério. Além disso, o próprio juiz da causa em seus escritos sapienciais faz recomendações a evitarem-se relacionamentos íntimos com qualquer uma que vivesse dessa forma.
O método encontrado por Salomão para descobrir quem era a verdadeira mãe - pois não havia testemunhas do ocorrido, muito menos programa do Ratinho para verificação de DNA - foi a famosa intenção de dividir a criança ao meio e dar metade a cada uma. A que verdadeiramente não era mãe preferiu ver a morte do infante que vê-lo nos braços da outra; a que de fato era a genitora da criança, tomada por um amor materno abdicou de criá-la para mantê-la viva. Assim, o amor à vida da criança assinalou quem era a verdadeira mãe.
Apesar de suas convicções, Salomão não as nega o acesso à justiça. Independente do modo de vida destas mulheres, o rei julga o caso buscando trazer solução justa para tal conflito. E para isto, não se exigiu das mulheres, dali em diante, um voto de total obediência ao Deus de Israel. A conversão ao judaísmo não era pré-requisito para se obter justiça.
Desta forma, não tenho o direito de querer que os outros vivam de acordo com minhas crenças, assim como não quero que ninguém me imponha a sua fé e exija uma postura coerente com ela. Não posso negar a uma pessoa o direito que lhe é devido, simplesmente porque minhas convicções vão de encontro a seu determinado modo de vida. Salomão vivendo em um Estado Teocrático, não catequizou as mulheres ao judaísmo; imagine nós, em um Estado democrático de direito que nos garante a liberdade de pensamento e crença.
Em nome de crenças e opiniões alguns não se importam com a “morte de crianças”, desde que o outro não tenha satisfeito o seu pedido mais que legítimo, porém incompatível com a fé daqueles.  O importante é manter-se no seu mundo seguro, sem supostas ameaças dos que não comungam das mesmas ideias. Nega-se o direito, mesmo que isso signifique tolher a existência digna do outro. Na melhor das hipóteses, buscam uma alternativa política2, dividem a criança ao meio, na tentativa de agradar a todos.
Acima de sentimentos mesquinhos e injustos que buscam a prevalência de opiniões e crenças, a vida se encontra. Aliás, é a dignidade da pessoa humana, independente do modo de viver adotado por ela, que tem preponderância quando se trata de fazer justiça.







1. 1 Rs 3.16-28

2. Não se enganem, política é a arte de tentar agradar a todos.


 


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